zeitgeist
quando dei-me conta, o seu cigarro já estava acesso. sim, eu lembro dela tirar o maço da bolsa, sacar o cigarro, mas não vi acender. não tem mais como negar meus lapsos de atenção. depois da primeira tragada. “continuando o assunto...”. como assim, continuando? onde havíamos parado? do que falávamos? enfim. “o brasil-tem-um-puta-potencial-não-aproveitado” “poderíamos ser o-país-do-futuro”. “porra, cara, é muito mais que atitude, é o espírito do tempo.” era bonito ouvir suas gírias de bandido explicando o zeitgeist – que eu nunca entendi. as palavras saindo daqueles lábios, puras, redondas, tão redondas quanto os bicos dos seus seios em alto relevo sob a amarrotada camiseta branca sem sutiã. “não, não quero amendoim.” ergueu o copo bem alto. no impulso da minha desatenção, ergui o meu também, esperando o brindar. “mais dois chopps, capitão”. baixei, meu copo. disse que não bebia. “vá se foder, moleque”. e riu. como quem me faz um cafuné.
Um comentário:
se não fossem: o boné, o filtro amarelo, os palavrões mais áridos, eu me identificaria com o instante fotografado e descrito.
lindo.
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