Prêt-à-Porter
“E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás de encontrar ainda”
- Florbela Espanca
Era uma tarde sem sol, mas fazia calor. Os passos estavam mais lentos para o tempo sentir preguiça em passar. E caminhávamos, sem querer saber pra onde iríamos; a mim não importava o que fazer, mas com quem fazer. Estar contigo é o bastante. Mesmo que miinha mão estivesse sobre o seu ombro esquerdo, era sempre você quem traçava os nossos caminhos.
E era só isso que eu queria, que me levasse enquanto nossos corpos estavam leves. Não queria que você me levasse a mal, mas sim, a sério. Às vezes, precisamos nos jogar de um precipício, sem pensarmos muito. E desfrutar da queda, aproveitar os instantes em que seu corpo está livre, deleitar-se enquanto o chão não encontra os nossos pés.
Mas minha querida, quando não dá mais para flutuar, o chão, infelizmente, é a nossa única opção. Então, os problemas vêm à tona. Percebo que os relacionamentos são perecíveis e o tempo, que antes era preguiçoso, agora se esvai num piscar.
Estou agora à mercê dos seus delírios, dependendo do sol, da chuva e das suas benevolências. Recusando os freios, os veios, os limites; eu aqui de baixo, gritando e sacudindo os braços: “Menina, desça já da sua razão.” Infelizmente, você nem me escuta.
Porém, certamente, guardarás o meu toque em algum dos escaninhos de teu corpo. E se um dia resolver tirar poeira, a nostalgia incendiará a tua alma, tornando a saudade latente. Se precisar de mim, estarei aqui, no meio dos empoeirados, esperando, esperando por uma tarde sem sol.
João Freitas tem 29 anos e tenta pensar no agora...
Nos Tímpanos: Los Hermanos – Casa Pré-Fabricada