"(...)Não te equivoques, Nathanael, ante o título brutal que me agradou dar a este livro.

Nele me pus sem arrebiques nem pudor; e se nele falo por vezes de lugares que não vi, de perfumes que não cheirei, de ações que não cometi – ou de ti, Nathanael, que ainda não encontrei – não é por hipocrisia. E essas coisas não são mais mentirosas do que este nome que te dou, Nathanael, que me lerás, ignorando o teu, ainda por surgir.

Quando me tiveres lido, joga fora este livro – e sai. Sai do que quer que seja e de onde seja, de tua cidade, de tua família, de teu quarto, de teu pensamento. Que o meu livro te ensine a te interessares mais por ti do que por ele próprio – depois por tudo o mais – mais do que por ti."

André Gide em "Os Frutos da Terra". Paris, 1927.

domingo, 9 de maio de 2010

só em espécie

nunca ter te escrito as palavras mais bonitas que eu já escrevi não significa que faltou-me vontade, tampouco inspiração. acredito que mesmo se eu escolhesse as minhas mais belas palavras ainda sim ficariam aquém da beleza das coisas não passíveis de adjetivação. ou talvez, não.

muito embora eu quisesse, não vou te escrever. tais palavras não são jogadas assim, por qualquer preço; elas devem ser deliciosamente negociadas, cada vírgula - , - tem valor inestimável. não se preocupe, as suas palavras – ou seriam minhas? – virão. saiba esperar e, principalmente, negociar.

não vendo sonho fiado.

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