"(...)Não te equivoques, Nathanael, ante o título brutal que me agradou dar a este livro.

Nele me pus sem arrebiques nem pudor; e se nele falo por vezes de lugares que não vi, de perfumes que não cheirei, de ações que não cometi – ou de ti, Nathanael, que ainda não encontrei – não é por hipocrisia. E essas coisas não são mais mentirosas do que este nome que te dou, Nathanael, que me lerás, ignorando o teu, ainda por surgir.

Quando me tiveres lido, joga fora este livro – e sai. Sai do que quer que seja e de onde seja, de tua cidade, de tua família, de teu quarto, de teu pensamento. Que o meu livro te ensine a te interessares mais por ti do que por ele próprio – depois por tudo o mais – mais do que por ti."

André Gide em "Os Frutos da Terra". Paris, 1927.

terça-feira, 6 de abril de 2010

soslaio


não veio com flores nas mãos, mas nos seus olhos havia girassóis. da mesma maneira que não se mostra exatamente quem se é para qualquer um, a ferocidade branca do seu sorriso permanecia preservada.

não disse muita coisa. não precisava. porém, precisava todo-e-qualquer gesto meu. com seus olhos grandes – aqueles dos girassóis - telescopiava o eriçar dos pelos do meu braço. e, de fato, a virtude está em esconder o que se quer mostrar.

não, não me olhe assim.

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