dilúvio
eu lá já estava sentado há algum tempo e por ter esperado mais do que eu esperava esperar, não me surpreenderia com nada. 7 horas e meia de chuva torrencial não foram o suficiente para lavar o que havia sido sujo. mas estiou e, antes do sol cruzar a janela de madeira semi-aberta, ela irrompeu pela porta da frente num silêncio simétrico à seu traje de luto.
sentou ao meu lado. desatou religiosamente o laço do tênis do pé esquerdo. descalçou. não difícil de prever, fez o mesmo com o tênis do pé direito. arrancou a meia encharcada. e n'um só movimento - perfeito, plástico - pôs os pés sobre o sofá, dobrando sutilmente os joelhos. na mesma liturgia, deixou a cabeça desabar no meu ombro. respirou fundo e nunca mais choveu.
2 comentários:
comoveu-me.
Que lindo!
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