"(...)Não te equivoques, Nathanael, ante o título brutal que me agradou dar a este livro.

Nele me pus sem arrebiques nem pudor; e se nele falo por vezes de lugares que não vi, de perfumes que não cheirei, de ações que não cometi – ou de ti, Nathanael, que ainda não encontrei – não é por hipocrisia. E essas coisas não são mais mentirosas do que este nome que te dou, Nathanael, que me lerás, ignorando o teu, ainda por surgir.

Quando me tiveres lido, joga fora este livro – e sai. Sai do que quer que seja e de onde seja, de tua cidade, de tua família, de teu quarto, de teu pensamento. Que o meu livro te ensine a te interessares mais por ti do que por ele próprio – depois por tudo o mais – mais do que por ti."

André Gide em "Os Frutos da Terra". Paris, 1927.

terça-feira, 13 de julho de 2010

cânhamo



me vem como o sol pintando dia na parede do meu quarto e levo, enfim, as mãos vazias ao alto na esperança de pescar qualquer-toda-coisa-alguma. me vem como um solo de coltrane, doido-doído, preenchendo os cantos vazios de algo que as pessoas - não muito criteriosas - se habituaram a chamar de alma.

que fique no meu peito. nem que seja como cânhamo, que já é costumeiro; mas que fique.

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