"(...)Não te equivoques, Nathanael, ante o título brutal que me agradou dar a este livro.

Nele me pus sem arrebiques nem pudor; e se nele falo por vezes de lugares que não vi, de perfumes que não cheirei, de ações que não cometi – ou de ti, Nathanael, que ainda não encontrei – não é por hipocrisia. E essas coisas não são mais mentirosas do que este nome que te dou, Nathanael, que me lerás, ignorando o teu, ainda por surgir.

Quando me tiveres lido, joga fora este livro – e sai. Sai do que quer que seja e de onde seja, de tua cidade, de tua família, de teu quarto, de teu pensamento. Que o meu livro te ensine a te interessares mais por ti do que por ele próprio – depois por tudo o mais – mais do que por ti."

André Gide em "Os Frutos da Terra". Paris, 1927.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

tchaudades


odeio despedidas, sabes bem, mas, ainda sim, insistes em partir. odeio despedidas tanto quanto você odeia essas minhas pausas desnecessárias no meio da frase. me perguntas para quê tanta vírgula e eu pergunto para quê tanta mala, a gente discute pela última vez – nesta semana – já que ficarás fora por um tempo. hora perfeita para você me contar a verdade, que não é apenas uma semana e sim 7 meses e que o destino não é ribeirão preto, é bruges. mas em que lugar do inferno é bruges? - e eu lembro dos sovertes divididos nos bancos claros das manhãs de domingo. lembro do “rock the casbah” no seu quarto e os vizinhos batendo na parede. tá. eu sei que não é o melhor momento pra rir, mas lembra do velho dizendo que a gente ia pro inferno por ouvir aquela música? lembro, perfeitamente, de quantas vezes passamos por essa situação, você partindo e eu ficando por aqui. você diz pela décima primeira vez que vai sentir saudade. e eu digo thcau.


bruges é na bélgica. 

  

4 comentários:

Flávia disse...

Adoro o ar ironico dos seus textos. Sempre muito bons.

SW4 - Class 2012 disse...

Esse final foi lindo!

SW4 - Class 2012 disse...

E eu ri na parte das palavras e das malas.

Giammattey disse...

sabe que eu vejo mais poesia do que prosa nisso aí tudo, você não acha?