Durma bem...
A indisposição pós-almoço nos enfastiava por completo. Sabe aquela preguicinha que consome todos os músculos e transforma as pálpebras em fardos quase insuportáveis? Então, eu resisti à mandriice. Já ela, não fazia muita questão de resistir, era mais interessante se entregar à fadiga.
Olhou para os dois lados. Buscava, despretensiosamente, um cantinho pra recostar. E encontrou. Um lugar calmo e aconchegante, entre o meu ombro direito e meu braço. Suavemente, dispôs o peso de sua cabeça e eu a auferi como se fosse uma láurea, com esmero de quem ostenta um andor. Pus minha mão direita sobre a sua mão, que me apertava o braço. Ela suspirou sutilmente, foi quase imperceptível para os meus ouvidos pouco apurados.
Lutei contra as leis da física para que meu braço parecesse o mais leve possível. Quis me tornar um lugar confortável para se estar. Tentei encher os pulmões de ar, para inflar o peito e ficar mais macio. Não consegui prender a respiração por muito tempo, logo, a almofada de ar e tecido adiposo murchou. Durante a minha vida, já quis ser muita coisa, de astronauta a jogador de futebol; mas acho que essa foi a primeira vez, que eu desejei ser um travesseiro.
Parece que não precisei fazer muito para que ela se acomodasse. Aninhou-se em mim rapidamente. E estando protegida de tudo e de todos, cerrou os olhos. Pousei minha mão sobre sua cabeça e acaricie-lhe os cabelos. Depois de alguns suspiros mútuos, ela adormeceu.
Por um instante, tive a sensação que o tempo parou e que tudo se calara pra acompanhar o movimento mínino da sua respiração. Nunca tinha visto ela daquele jeito. Ela relaxou, tirou o mundo dos ombros e cochilou. Estava ali, quieta, presa em mim.
Eu já não mais conseguia me concentrar, eu via a paz em seu rosto, dormindo junto com ela. Passei a ser mais sutil com os movimentos pra não perturbar o que ali havia se formado. Ela dormindo se torna completamente antagônica ao que é, quando acordada. Parecia tão frágil que eu me senti na obrigação de zelar pelo seu sono.
Meus olhos se embeveceram com tal visão. Mãos, cabelos, músculo, corpo; esplendoroso milagre das coisas sensíveis e suaves, feitas para serem desmedidamente amadas. Um poder mediúnico de fazer o bem sem muito esforço.
E eu observando aquilo tudo; ali, bem de pertinho, um entusiasta da beleza nas pequenas coisas. Talvez se ficasse um pouco mais de tempo, meus olhos marejassem. Mas ela acordou e deve estar se perguntando até agora o motivo do sorriso bobo estampado em meu rosto.
João Freitas tem 20 anos e tem dormido muito bem...
Nos Tímpanos: Ludov – Dorme em Paz
10 comentários:
"Acordei de um sonho bom, que eu queria gravar"
Tenho sonhado bem nas �ltimas noites e tardes. Bons sonhos pros ombros que carregam o mundo e que amam!
(como sempre, um belo texto)
um post apaixonado e apaixonante.
simples, claro e apaixonado (sim, de novo).
;]
Encantador ;)
João Freitas tem 20 anos e tem dormido muito bem...
João Freitas tem 20 anos e anda apaixonado....
bjussss João
Natasha
(http://natasha-bantim.livejournal.com)
kd vc joao...textos novos em a-verso...bj meu grande joao!!!!!
rá!
rara são as vezes,
João Feijão.
Agradável leitura tive.
até.
magnífico!
Impressionante para sua idade.
Quando eu crescer eu quero escrever assim. =)
Parabéns!
Sua prosa é sempre envolvente, mesmo.
"Ela dormindo se torna completamente antagônica ao que é, quando acordada."
Maravilha, rapaz.
E este trecho do André Gide é jóia-rara!
A melhor aula de Contabilidade que eu presenciei.
Foi uma excelente surpresa. Melhor que essa? Só o próximo texto.
Amo!
muito legal =)
primeiro post seu que eu leio e gostei bastante.
vo favoritar. parabens.
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