"(...)Não te equivoques, Nathanael, ante o título brutal que me agradou dar a este livro.

Nele me pus sem arrebiques nem pudor; e se nele falo por vezes de lugares que não vi, de perfumes que não cheirei, de ações que não cometi – ou de ti, Nathanael, que ainda não encontrei – não é por hipocrisia. E essas coisas não são mais mentirosas do que este nome que te dou, Nathanael, que me lerás, ignorando o teu, ainda por surgir.

Quando me tiveres lido, joga fora este livro – e sai. Sai do que quer que seja e de onde seja, de tua cidade, de tua família, de teu quarto, de teu pensamento. Que o meu livro te ensine a te interessares mais por ti do que por ele próprio – depois por tudo o mais – mais do que por ti."

André Gide em "Os Frutos da Terra". Paris, 1927.

domingo, 24 de junho de 2007

Índole


“tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.”

-Elisa Lucinda


Eu sabia, desde o começo, que meus braços nunca seriam rede suficiente para o trapézio que é a inquietude dos seus dezoito anos incompletos. E que eu não ficaria aqui para ver tudo desabar, porque eu desabaria junto. Não sou forte, querida; não suportaria a cena.

De uma estranha forma, isso passou a me dar segurança; fez-me saber que nunca estaríamos juntos por comodidade, mas sim por que a vontade imperava. Sim, querida; continuaríamos por que ainda não sugamos tudo que podíamos, por que eu ainda guardaria um sorriso a mais para pôr em seu rosto.

Não me preocuparia mais com problemas pequenos e tentaria não me importar com os grandes também. Veria que todas as discussões não nos levam a nada. Teria certeza que ver você sorrir era o que me bastava, querida. Então, antes de cobrar alguma coisa, daria tudo. E se ainda faltasse algo, prometeria até o que eu não tenho.

Ficaríamos juntos para ver terminar mais uma estação, quiçá esperaríamos a próxima primavera. Sentaríamos, lado a lado, te esticaria a mão para ler-te a palma. Só não veria um romance, se os meus dedos estivessem apertando os seus, estreitando as nossas mãos, num devagar e urgente gesto de afeto.

Querida, eu começaria a me preocupar menos com os horários. Sim, faria questão dos atrasos, já que a expectativa da espera torna os encontros mais interessantes. Alias, jogaria meu relógio janela a fora. Não teria hora para me soltar de seus abraços, não teria hora para partir. Viveria sem pressa de ser feliz.

Evitaria todos os erros, querida. Erraria por achar que tudo pode ser perfeito. Mas logo em seguida, saberia que a perfeição é inatingível, mas que estava determinado à chegar mais perto disso possível. Teria humildade para assumir a culpa, juraria que não iria acontecer de novo, sabendo que em breve, faria besteira novamente.

Pediria desculpas uma vez mais, por erros já passados, por erros já perdoados, por erros que ainda não houvera cometido. E se em um abraço, querida, você me perdoasse, eu seria pela a eternidade de um segundo a pessoa mais feliz do mundo.

Isso tudo porque, a partir de um determinado momento, eu aprendi a sentir, querida. Porque palavras que antes soavam ocas, agora fazem todo sentido. Como se antes, eu vivesse num eterno e generalizado déjà vu, tendo a sensação de que tudo que eu dissesse, já tivesse sido dito, pensado e esquecido.

Porque agora, menina de rosa, trouxeste cor para o filme preto e branco em que eu estava imerso. Tantos parágrafos por que ainda tenho dificuldade de resumir meus sentimentos na frase de três palavras mais clichê do planeta.

João Freitas tem 17 anos e aprendeu a sentir...



Nos Tímpanos: Batone - Acidente

5 comentários:

Caroline disse...

Dizer o que, depois de tudo isso?

Te adoro!!!

:)

ana disse...

Eu, definitivamente, mergulho de peito (como aqueles mergulhos de corajosos e principiantes) na tua doce imaginação, e me imagino escrevendo com essa tua inspiração transcendental.
Eu quero essa ludicidade. Me doa?

Adoro teus escritos, amigo João!

Anônimo disse...

xuxuuuuuuuuuuuuuuuuuuu...
lindo seu texto baby....
soh te digo uma coisa...calma....e saiba q eu gosto muiiiitão de vc baby...e sempre q precisaaar de qualquuuueeer coisa pode contar comigo meu baby....mas fica calmo...xuxuzão de itu...

bjoos

Clóvis Struchel disse...

Sempre muito interessante a sua fala; envolvente, bem urdida.
Muito bom, man.




:)

Anônimo disse...

Palmas para aquele que transforma sentimentos em palavras.


Beijos da prima pequena.