"(...)Não te equivoques, Nathanael, ante o título brutal que me agradou dar a este livro.

Nele me pus sem arrebiques nem pudor; e se nele falo por vezes de lugares que não vi, de perfumes que não cheirei, de ações que não cometi – ou de ti, Nathanael, que ainda não encontrei – não é por hipocrisia. E essas coisas não são mais mentirosas do que este nome que te dou, Nathanael, que me lerás, ignorando o teu, ainda por surgir.

Quando me tiveres lido, joga fora este livro – e sai. Sai do que quer que seja e de onde seja, de tua cidade, de tua família, de teu quarto, de teu pensamento. Que o meu livro te ensine a te interessares mais por ti do que por ele próprio – depois por tudo o mais – mais do que por ti."

André Gide em "Os Frutos da Terra". Paris, 1927.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Ana Nova



4...3...2...1...

Os fogos da praia do Flamengo fizeram Ana vibrar. Ria com a boca aberta e o sorriso dela se esticava cada vez que o estrondo fosse maior. Eu estava deveras confuso, não sabia se olhava para o céu, agora iluminado, ou para o céu da boca de Ana. Até que então decidi olhar para o que fosse mais estonteante. Continuei confuso...

Ela ia apenas molhar os lábios com um pouco de champanhe. Quando se deu conta, já estava abraçada com a garrafa e bebendo-a pelo gargalo. Deve ter me dito “Feliz Ano Novo” umas cinco vezes. Quando se dava conta que já havia dito, dava uma saborosa risada que me fazia rir junto.

Ela gritou: “Ano Novo, Vida Nova”, brindamos com copos plásticos e nos sentimos obrigados a fazer "Tin-Tin" com a voz... Aquilo não fazia muito sentido pra mim. Por que Vida Nova? Será que ela não está satisfeita com a vida, a ponto de todo dia 31 de Dezembro desejar uma nova? O problema não estava com a vida e sim com ela...

Já carregava sua sandália nas mãos, e foi bambeando, cambaleando até o calçadão. Ela caiu diversas vezes, não sei se por causa do álcool ou por causa da areia fofa.

Todos que a conheciam, diziam que ela não podia beber que perdia o controle. Eu muito egoísta, divertia-me com a cena e ainda oferecia mais uma dose. Senti-me um monstro ao vê-la vomitando por cima dela mesma. Percebi que a cena não tinha nada de divertido...

Todos os nossos amigos já haviam ido embora, e eu não podia deixar ela sozinha ali. A pus no carro, e a levei até a casa. Levei-a pelos braços até o chuveiro. O banco dentro do box indicava que já houvera outros porres. Abri o registro, a água estava muito gelada, senti os seus músculos se contrairem e ela apertou minha mão com toda a força que ainda tinha naquele corpo.

Já não havia resquícios nem de vômito, nem de areia. A deitei na cama, acariciei-lhe os cabelos. Ela abriu os olhos ainda grogue, e me disse: “Perdão”, prometendo que aquilo não aconteceria novamente.

Eu respondi sorrindo: ”Ano Novo... Ana Nova...”...

João Freitas tem 21 anos e só veste camisa branca dia 31 de dezembro...




Nos Timpanos: Thom Yorke - Harrowdown Hill

5 comentários:

Anônimo disse...

nhaaaaaaaaaaaa....grande Anaaaaaaaaaaaa....rsrs...nome da minha tia...nha vc flaa da Maria, minha mae, Ana minha tia....ta faltando minha historia...rsrs...

bjos xuxuuuuuuuuuu

Anônimo disse...

Quando vai sair o seu livro?
Realmente surpreendente.

ana disse...

ana nova depois disso,
lua nova hoje,sabia?
não,é mentira..foi só pra ficar mais poético


um beijo.se tu vier ver o comentário..
=]

ana disse...

e tu é a terceira pessoa pra quem eu mostro meu recém formando blog..e o primeiro estranho.
dps de um zilhão de blog já deletados,vamos ver até onde esse se aguenta.

bj

J. disse...

parabéns demais pelo texto.