Minhas Guias
“Oi, Boneca...”, era assim que eu puxava assunto com as meninas nas festas. Logo depois, eu perguntava o nome. E depois que se sabia o nome, não tinha mais jeito, o peixe já estava na rede.
- eu, em pedaços.
"(...)Não te equivoques, Nathanael, ante o título brutal que me agradou dar a este livro.
Nele me pus sem arrebiques nem pudor; e se nele falo por vezes de lugares que não vi, de perfumes que não cheirei, de ações que não cometi – ou de ti, Nathanael, que ainda não encontrei – não é por hipocrisia. E essas coisas não são mais mentirosas do que este nome que te dou, Nathanael, que me lerás, ignorando o teu, ainda por surgir.
Quando me tiveres lido, joga fora este livro – e sai. Sai do que quer que seja e de onde seja, de tua cidade, de tua família, de teu quarto, de teu pensamento. Que o meu livro te ensine a te interessares mais por ti do que por ele próprio – depois por tudo o mais – mais do que por ti."
André Gide em "Os Frutos da Terra". Paris, 1927.
“Oi, Boneca...”, era assim que eu puxava assunto com as meninas nas festas. Logo depois, eu perguntava o nome. E depois que se sabia o nome, não tinha mais jeito, o peixe já estava na rede.
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João Freitas
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Ahh... Como senti saudade de Dona Maria. Espero que ela também tenha sentido saudades minhas. Posso dizer que foi ela quem me criou, já que meus pais tinham que sair para trabalhar e ela se mostrava sempre tão solícita a cuidar do “Pequeno Estorvo”-era assim que os outros familiares me chamavam.
Aprendi muito com ela. Uma vez ela me viu chegar a casa, com o bolso cheio de balas, eu estava com um sorriso imenso, um daqueles que não se cabe no rosto. Como não podia me dar dinheiro para comprar doces, ela logo descobriu que eu tinha roubado de alguém. Mas como ela sempre foi muito sutil, o verbo “roubar” não figurou em seu vocabulário, ela só perguntou de quem eu tinha pego emprestado aquelas balas, e eu, não aprendera ainda a mentir, confessei que tinha pego lá na venda sem o seu Paulo ver. A esse momento eu já esperava uma surra, mas aquela voz suave me tocou muito mais do que qualquer chinelada, ela me disse com toda cumplicidade: “João, só queira o que é seu. Só assim se é alguém...”. Era muito criança, essas palavras não fizeram tanto sentido. Mas as guardei para que, quem sabe um dia, pudesse entendê-las.
Dona Maria tinha uma filha, nunca falava sobre ela; descobri que se chamava Luiza. Minha mãe dizia que Luiza foi uma criança linda, de lindos cabelos e com olhos que brilhavam mais do que o sol. Porém, em um dia nublado, a policia chegou atirando lá no bairro, e os olhos de Luiza pararam de irradiar tanta luz, consequentemente, os de Dona Maria também. Acho que minha presença ressarcia parcialmente a falta da filha dela. Que nada! Pretensão minha...
Nos Tímpanos: Noel Rosa - Filosofia
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João Freitas
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