Et Cetera
“é nela que os dentes encontram
o que os mantém afiados
com ela é que a língua elabora
a doce palavra”
- Paulo Henriques Britto
Não sei se estava dormindo ou se estava desperto, mas, independente disso, a menina de rosa voltou para perpetuar meus sonhos. E dessa vez, ela voltou diferente; os seus olhos morenos traziam algo desconhecido, que de certa maneira, me atraia e me fazia recear.
Ela caminhava lépida; seus passos eram calmos, como se não se importasse com os carros buzinando. Era ela que dava sentido aos sinais de trânsito e as calçadas, se não por ela, não haveria motivo de existir as avenidas. A menina de rosa só queria passear. Eu queria apenas decifrar o código preguiçoso daqueles gestos sutis.
As palavras que eu dizia pareciam não fazer muito sentido, a menina de rosa não reagia a nenhuma delas. E era tudo genuíno, sincero, mas ainda pouco para aqueles ouvidos. Sentia-me piegas, sorria para disfarçar. Infelizmente, não adiantava, sobravam os legítimos sentimentos, ainda sem resposta.
O seu cheiro era inebriante. Da mesma forma, que me recordo do gosto do Doce de Abóbora, me recordo daquele perfume usurpado das flores. Sinto-me capaz de, a 60 milhas distantes, reconhecer tal essência.
Por onde ela passava, atraia as atenções. E com todos os olhos nela postos, a palavra privacidade se tornara inconcebível. Eu não me importava com tal indiscrição, mas os olhares alheios a incomodavam. Embora tentássemos fugir, era impossível; sempre haveríamos de encontrar um par de faróis a nos vigiar.
Mas chegou uma hora, que não deu mais para evitar o toque, e esses olhares deixaram de ser tão incômodos. E, a essa altura, é inevitável, sucumbir ao desejo.
E os olhares indiscretos terão visto a felicidade, mas mesmo assim, incrédulos, terão que reticenciar todos os seus pensamentos...
“E todos vão falar,
Dar nomes pra mim.
Votar minha fé,
Que eu sou o teu quintal.
Se alguém vier falar,
Não brigue por mim.
Só diga que sou
Um problema seu...”
-Sérgio Filho
João Freitas tem 36 anos e está muito bem, obrigado...